U2 - Rattle and Hum


Enquanto o U2 fazia sua tour pelos estádios no ano de 1987, membros da banda diziam aos entrevistadores como tornaram-se fascinados pela música americana, especialmente a black southern nas raízes do rock-and-roll-blues, gospel e soul. Ao mesmo tempo, o album da banda irlandesa de 1987, "The Joshua Tree", trouxe à banda popularidade mundial, alavancando o U2 de nível de culto para aplausos quase universais.
Uma banda que produziu hinos idealistas para uma geração estava alcançando uma boa parte dela. Ao mesmo tempo, estavam tornando-se rock stars, susceptíveis a pressão e um senso convencido de significância. "Rattle and Hum" album complementar de um filme de uma tour tenta pôr juntos temas mundiais e locais. É uma bagunça. Partes das performances ao vivo são eletrizantes. ''I Still Haven't Found What I'm Looking For'' (em um arranjo transformado por um coro gospel e solistas), "Pride" (in the Name of Love) e "Silver and Gold" (uma parábola que urge sanções econômicas contra a África do Sul) capturam o senso elevado de solidariedade que U2 e sua audiência geram.
Mas a banda lançou um disco ao vivo, ''Under a Blood Red Sky,'' em 1983, e claramente quis fazer algo mais ambicioso com "Rattle and Hum". O album esbarra desde hinos de estádio até novas gravações de estúdio e snippets. O plano, claramente, era reter o fervor moral de "The Joshua Tree", e ainda variar o estilo tão imitado da banda, apra prestar homenagem a música americana, e resgatar alguma espontaneidade que o status de rockstar pode destruir. Infelizmente, o egocentrismo da banda entrou no caminho.
"Rattle and Hum" é pesteado pela tentativa da banda de agarrar qualquer manto do Hall da Fama do rock-and-roll. Mesmo estando em tour, a banda gravou no Sun Studio em Memphis (onde Elvis Presley registrou seus primeiros sucessos) com colaboraçãoes de Bob Dylan e B.B. King. O album inclui uma canção dos Beatles ("Helter Skelter"), uma de Dylan ("All Along the Watchtower") e um pouco da versão de Jimi Hendrix de "The Star-Sprangled Banner".
Cada tentativa é embaraçosa de sua maneira. Bono Vox, vocalista e letrista, abre o album com a cabeça na bunda quando anuncia na introdução de "Helter Skelter', dizendo, ''This is a song Charles Manson stole from the Beatles. We're stealing it back.'' Ele só se esqueceu que U2 não são os Beatles, e continua depois embaralhando a letra. Mr. Vox sentiu-se compelido a adicionar um verso messiânico à enigmática ''All Along the Watchtower'': ''All I've got is a red guitar/ three chords and the truth.''
Mas problemas maiores surgem nas novas canções da banda. Em "Rattle and Hum" a banda tenta mesclar dois estilos que dão autenticidade no rock. Um é o próprio estilo da banda de grandes arenas, um sentido aberto aberto literal. A voz sussurrada e aberta de Bono Vox, as guitarras de Edge (frequentemente usando quintas abertas no estilo medieval ao invés de maiores) e o crescendo dramático da banda toda, sabiamente usado sugerindo sentimentos de explosão e perda de controle.
O outro é o retorno às raizes musicais, com a conotação de que estilos antigos eram mais diretos e honestos, menos artificiais, do que os modernos. Junto com os tributos, a banda tenta seus próprios blues (''God Part II'' e ''When Love Comes to Town,'' com B.B. King no seu banquinho), Bo Diddley rock (''Desire'' and ''Hawkmoon 269'') Memphis soul dos anos 60 ("Angel of Harlem" com Memphis Horns) e rythm-and-blues ("Love Rescue Me").
Infelizmente, blues e soul não são as raízes principais da banda. O estilo da voz de Bono vem do hard rock, e é um estilo em que a paixão é assinalada com grande emoção. Grandes cantores de blues e soul sempre tinham algo na reserva guardado, liberando seus voos mais altos com uma virtuosidade estática que ainda demonstrava certo controle. Em ''When Love Comes To Town,'' B.B. King canta seus versos como um bluseiro. Mr. Vox apenas grita os seus incluindo o miserável e auto explicativo ''I ran into a juke joint.'' "Angel of Harlem", desesperadamente tenta prestar tributo a Billie Holiday mas acaba pretenciosa.
O problema não é raça ou geografia, mas o talento e inclinação. Outros artistas brancos através do Atlântico - os Rolling Stones, Eric Clapton, Steve Winwood, Van Morrison - conseguiram personalizar o blues americano e o soul. U2 entretanto tenta adotar a convicta sinceridade do soul enquanto ignora seus padrões.
Exceto por "Heartland", uma balada com imaginação que conecta escravidão e apartheid, o resto das novas canções da banda desapontam no que dizem. "The Joshua Tree" trazia imagens de amor, sofrimento e apocalipse, de compaixão pessoal e professia global, em letras que fizeram o imaginário bíblico parecer pessoal e tocado no coração. Em "Rattle and Hum" algumas canções resumem-se pelos próprios nomes - ''Desire,'' ''All I Want Is You'' - e a palavra "love" aparece constantemente. "Hawkmoon 269" asserta "I need your love". "Love Rescue Me" escrita por Bob Dylan, é um pouco mais complicada e piegas: ''Many lost who seek to find themselves in me/ They ask me to reveal/ The very thoughts they would conceal.'' "God Part II" conclui "I believe in love".
A banda poderia estar tentando imitar a efetividade direta do estilo de compor do soul, onde "love" liga o ardor gospel religioso a as paixões primitivas da música secular, mas o resultado é auto-parodioso.
Popularidade massiva pode ser difícil para os músicos, especialmente para o U2 que sempre tentou fazer as coisas da maneira mais sincera possível até então. Desde o início, sempre teve uma qualidade não preservada, um senso de urgência e vulnerabilidade que se manteve até mesmo quando sua audiência cresceu em milhões. Essa urgência se condensa de uma maneira ruim em "Rattle and Hum", onde a banda insiste que interpretar músicas de outras pessoas de maneira desastrada é tão importante como a coisa em si. O que temos aqui faixa após faixa é pura egomania.
Pretentious in a bad way.

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