De La Soul - Art Official Inteligence: Mosaic Thump


Imagine que não há popozuda. Nem gostosas com cabelos esvoaçantes. Nem Cristal na banheira. Nem Rolex no pulso. Agora imagine o De La Soul em 1989, ignorando a onda e o estilo do hip-hop com seu clássico album de estréia, "3 Feet High and Rising", rimando sobre buracos na grama, vestidos como fantoches Muppets que se perderam no caminho para o campo de golfe, sampleando qualquer coisa desde Steely Dan até Schoolhouse Rock. De La Soul era um grupo de hip-hop de cartoons de sábado de manhã, com o produtor Prince Paul providenciando as piadas mais engraçadas. Juntamente com seus manos do A Tribe Called Quest e os Jungle Brothers, o trio resumiu bem o estilo de hip-hop do Native Tongues: progressivo, brincalhão e leve nos pés. Como todas as coisas boas, o momento do Native Tongues acabou muito cedo, mas o De La Soul nunca jogou a toalha. No seu quinto album, "Art Official Inteligence: Mosaic Thump", Posdnuos, Dave (antes Trugoy) e Maseo continuam suas estranhas evoluções como embaixadores do hip-hop.
Os espertos jovens que fizeram "3 Feet High" são todos trintões agora, e mesmo que o som tenha ficado mais mela cueca, continua bem sacado, excêntrico e cheio de retornos e contornos inesperados. "Art Official Inteligence", foi o primeiro de uma trilogia planejada, e foi o primeiro album do De La Soul desde "Stakes Is High" de 1996, que foi o primeiro album deles em três anos. (Os caras estavam se achando os Pink Floyds da vida pelo jeito hehehe) Mas quando o De La Soul vai para o estúdio eles sabem como fazer a festa lá. "Oooh" é um tipo de funk bobo louco meio bagunçado que poucos artistas de hip-hop adultos tentariam, entrelaçado com o balbucio demente de Redman e as impresões do De La Soul Treacherous Three. "U Can Do (Life)" loopa um trecho de Chic "Le Freak" enquanto Posdnuos manda a rima, "They stressin' back in the day/I'm at the front of the night." Como todos os albuns do De La Soul, "Art Official Inteligence" tem muita encheção de linguiça indulgente, mas é o preço que eles pagam por experimentar, e as participações especiais de Busta Rhymes, Chaka Khan, Xzibit e dos Beastie Boys mantêm o corpos se mexendo. Mesmo sem muito alarde na mídia e nada de pose, De La Soul mostrou como o pessoal do hip-hop pode amadurecer no ofício.
O espírito do Native Tongues vivia na pretensão, os grupos de faculdades taxaram "o underground" como bando de crentes e os "backpackers" de céticos. O problema com o hip-hop underground era a música. A batida ficava fraca tipo jazz-fusion, enquanto os MCs tantavam muito soar sutis e desprendidos que a mistura toda acabava em uma meleca. O album de estréia em uma major do Dilated People, "The Plataform", foi um avanço comparado com o trabalho independente deles, graças às batidas fortes do DJ Babu e a ajuda de B Real do Cypress Hill, The Alkaholiks e o desaparecido em combate prog-rapper Aceyalone. Mas o Dilated People continuou dolorosamente domado no microfone, especialmente Evidence, que mandou uma pérola do ridículo no "The Plataform" sendo o primeiro rapper a cantar as palavras "between you and I." Os vocais afundam a música: esse é um tipo de album de hip-hop onde o MC se compara com Steve Howe, e enquanto você espera que ele esteja referindo-se ao jogador de baseball homônimo, você sabe que lá no fundo ele está se referindo ao guitarrista do Yes. Que pena que o People não sampleou "Roundabout" (hehehe).
Chega de descer a lenha em quem não tem nada com o disco postado aqui. Peço desculpas.
De qualquer forma o De La Soul e seus discípulos provaram que os mocinhos podiam continuar no páreo, sem pose e sem ignorância. Rap do bem.
Decent decline.

Stevie Wonder - The Woman in Red [Soundtrack]


A carreira de Stevie Wonder nos anos 80 foi uma fonte de frustração para os fãs que ele ganhou nos anos 60 e 70. Em 1982, houveram algumas poucas novas canções em um album de greatest-hits e um dueto com Paul McCartney. Então veio esta trilha sonora para uma comédia de Gene Wilder que simultaneamente foi mais um album vocal pop do que a maioria das trilhas sonoras e ainda assim menos que um album de Wonder propriamente dito. A Globo de Ouro sucesso número um nas paradas foi a melosa "I Just Called to Say I love You", uma jogada de marketing das boas. "Love Light in Flight" também emplacou, e o album também teve Dionne Warwick em dois duetos e uma solo. Foi até um disco bacana, mas, após quatro anos, os fãs de Wonder queriam mais que isso.
Not exacly Wonder-ful.

Marvin Gaye - Midnight Love


Ele foi concebido como um album sobre salvação espiritual e sexual entitulado "Sexual Healing", com o mesmo nome da música que eventualmente tornou-se o maior sucesso da carreira de três décadas de duração de Marvin Gaye. Mas a nova gravadora do cantor, Columbia, não estava empolgada com o título, e por final nem mesmo Gaye, que estava preocupado que tal provocativo título estragasse o que ele esperava ser sua volta triunfal.
Gaye desistiu da idéia mas manteve a música "Sexual Healing", que ele corretamente acreditou desde o início ser um sucesso (alcançou a terceira posição na parada pop da Billboard). "They'll be jamming all over the world to this," ele disse ao seu biógrafo David Ritz, que colaborou com ele na letra da música.
Mesmo que "Midnight Love" não tenha sida a obra prima de Marvin Gaye (essa honra vai para o essencial album "What´s Going On") é um inspirado e maduro trabalho de um dos maiores cantores de soul, e cartamente é um dos melhores albuns de soul dos anos 80. Carregado de grooves dançantes, sofisticado trabalho de guitarras, ritmos exóticos e vocais sedutores, "Midnight Love" realmente provou ser a volta de Marvin Gaye. Infelizmente, foi também o último album que ele fez antes de ter sido morto a tiros pelo seu pai em abril de 1984.
"Marvin esteve vivendo na Europa, e ele foi influenciado por ambos reggae e trabalhos de sintetizadores de grupos como Kraftwerk", lembrou Larkin Arnold, um ex vice presidente da CBS Records que foi produtor executivo de "Midnight Love". "Ele pegou o ritmo do reggae, a nova tecnologia e o soul americano e veio com algo novo e único".
Mesmo que "Midnight Love" tenha um sentido urbano e até um pouco plastificado, o album na verdade foi concebido e criado enquanto Gaye esteve vivendo em Ostend, uma pacata cidade costeira na Bélgica, onde ele foi se esconder para escapar dos excessos de Hollywood e Londres. No começo ele trabalhou com seu cunhado o multi instrumentista Gordon Banks, no Studio Katy, em Ohaine, uma pequena cidade não distante de Brussels. Mais tarde o veterano produtor da Motown Harvey Furqua (que descobriu Gaye e colocou-o em seu histórico grupo de doo-wop os Moonglows em 1958) foi levado até lá para manter as coisas no lugar.
Gaye trabalhou esporadicamente no album por um período de nove meses. "Ele era teimoso", disse Arnold. "He enjoyed the role of the tortured and spurned artist. He would pout and go off. Two or three times he stopped working on the album. It was nerve-racking". Também disse ele. O custo financeiro da Columbia para colocar Gaye no estúdio e mantê-lo lá foi alto. Mais de $1.5 milhões para comprar seu contrato da Motown, uma entrada de $600,000 para o cantor e mais de $1.5 milhões de custo de gravação, de acordo com Curtis Shaw, o advogado de Gaye na época. Mas Arnold, que foi o mentor do negócio, coloca o custo da gravação de "Midnight Love" perto de $2 milhões.
Seja qual tenha sido o preço, o album foi um sucesso, vendendo 2.7 milhões de cópias no mundo todo, mais de 2 milhões delas nos Estados Unidos. Gaye viu seu album, que sucedeu dois albuns fracassados pela Motown, como um empreendimento comercial para ganhar de volta uma massa de audiência perdida. Em uma tipicamente franca entrevista, ele até descartou um par de músicas do album como "artificiais".
Deixando as pirações de Gaye sobre o fim do mundo da lado, ele acabou acertando em cheio com seu pré planejado intento aqui.
Este album aqui resenhado é uma reedição da Altaya, um selo espanhol, com uma capa alternativa.
The voice of a tortured and triumphant soul.

Robert Palmer - Riptide


Vindo na cola do massivo sucesso do Power Station, "Riptide" empacotou a suave personalidade e voz de Robert Palmer em uma série comercial na maioria de músicas de rock que pareciam ser feitas na medida para as paradas de sucesso. A conexão com o Power Station pareceu deixar forte demais o interesse usualmente mais eclético de Palmer, mas com o produtor e membro daquela banda Bernard Edwards tomando conta da produção e os membros Andy Taylor e Tony Thompson participando também, similaridades estilísticas ficaram inevitáveis. "Flesh Wound", entretanto, soa como uma versão de "Some Like It Hot", com suas guitarrinhas em staccato e bateria tribal imitando o hit single. "Hyperactive" adiciona um pouco de veneno pop para a fórmula, com seus teclados brilhosos da época do Miami Vice. Cafonalha nostálgica por assim dizer. "Addicted to Love" compartilha da mesma pegada, diminuindo o ritmo bombástico do Power Station em um mais meloso, território blues, ainda assim mantendo uma veia rock. A música emplacou no topo das paradas americanas e vendeu mais de um milhão de cópias no mundo todo como single. Um video clipe para a música, mostrando modelos rebolandinho de forma sexy no ritmo do som, sem dúvida ajudou nas vendas e alavancou uma nova fase na carreira de Palmer, onde video clipes podiam quase obscurecer suas composições. Igualmente pegajosa e quase tão bem sucedida foi a versão de Jimmy Jam e Terry Williams "I Didn´t Mean to Turn You On". É provavelmente a faixa mais arriscada de "Riptide", com suas nervosas notas fragmentadas, linhas de baixo funkeadas e bateria bem marcada encaixando com os vocais melosos de Palmer, criando mais uma música batuta para aquele pessoal do gelzinho no cabelo e terninhos com ombreiras da época. Também não pode ser deixada de lado a faixa de Earl King "Trick Bag", que Palmer transformou em um blues para época modernoso. Mesmo com "Riptide" usando o Power Station como base, suas maiores falhas são onde Palmer se destaca disso tudo, especialmente nas cafoníssimas duas versões de "Riptide" no começo e no final do album.
O album todo é um deleite cafona porém interessante peça para estudo da evolução dos anos 80.
F... the 80s.


As dez músicas neste CD vão do ótimo ao mediano, principalmente porque os Meters insistiram em cantar e simplesmente não eram grandes vocalistas. Suas conduções e harmonias em "Come Together" e "Bo Diddley", entre outras, foram exuberantes, mas não adicionam nada perante os originais. Por outro lado, não houveram muitos grupos em qualquer estilo que apresentassem tamanha química e alma juntos. Seus inspirados ritmos funk quase apagam os fracos vocais (fracos em comparação ao nível da banda, ainda superiores a qualquer tranqueira que escutamos hoje em dia).
Overlooked gem.