Vf0 - Comecemos pela gênese da banda. Como foi o processo de montar a banda?
Cara, eu e o Lucas Rosa (Cidão) sempre tivemos bandas juntos em Leme, começamos tocar juntos desde muito cedo e sempre tivemos a vontade de montar um projeto que fosse além do metal, que soasse como protesto e etc.. Eis que 2012 começamos a mexer os pauzinho, convidei o Duane que já havia tocado conosco em outro projeto e chamei outros 2 guitarristas, um deles acabou saindo e quem ficou foi o Gustavo Pêra somente. A banda de inicio ia tocar só uns clássicos do grindcore e do thrash, porém todo mundo tava pilhado nos sons mais crossovers, nos punk/hc's e na ideia de produzir música autoral que a formação se encaixou e se encontrou musicalmente de forma bem legal.
Vf0 - Por que o nome Makumbah?
Mano, não sei.... hahahaha.. ninguém sabe. A gente não queria nenhum nome que soasse sério, tenebroso, metálico, já estavamos cansados de nomes com Dark, Hate, Funeral, Storm no meio e não queriamos nome em língua estrangeira. Só sei que ficamos no dilema entre Saravá, Cabra da Peste e Macumba, acabei fazendo o logo com o nome de Macumba que depois foi adaptado pra Makumbah, curtimos e ficou. Mas o nome é significativo, na origem da palavra que é angolana a tradução refere-se a "soar assustador", em outras traduções se refere a palavra "festa" e no clichê contemporâneo faz alusão aos ritos de religiões africanas e etc. Enfim, seja o que for, tá valendo!
Vf0 - "A banda possui influências do Grindcore, Punk/HC, Crossover e Thrash Metal, buscando apresentar através do seu som atitudes de protestos em relação a política e sociedade". A partir do final desta frase, extraída do breve release no site da banda, lhe pergunto: Como você vê a sociedade brasileira atual? (De um modo geral, culturalmente, socialmente... você escolhe a veia).
Caracas mano, todo mundo da banda tem um olhar pra cada aspecto, vou falar do meu particularmente já que me encarrego de escrever as letras da banda.
Mano, acredito que a política brasileira é reflexo da sociedade, ambas são espelhos um pro outro. Atitudes expressas no estado são referencias da sociedade em que vivemos, então não se pode falar que tudo mudaria se trocasse alguns nomes no poder. E se tratando de poder creio que esse é o maior problema, a busca excessiva por status e grana aliena e esses são dogmas pregados pela mídia. Novelas, programas e até mesmo noticiários levam o público a seguir determinada linha de raciocínio consequentemente de realidade de vida, sem abrir espaço para o questionamento e construção de caráter humano. Esses são pontos que se sobrepõem em qualquer sociedade, porém no Brasil não possuímos controle algum sobre a educação, ela está deteriorada, mal estruturada, desde suas bases metodológicas através dos professores mal remunerados que se reflete em alunos, jovens e adolescentes possessos de revolta e em busca de uma felicidade que se baseia no que é apresentado pela mídia.
Culturalmente, tratando-se em primeira estância aos artistas, produtores de conteúdo e questionadores da sociedade e da vida, não se percebe um apoio coerente por parte do estado, que em muitas vezes ao invés de apoiar a iniciativa independente, se dispõe a colaborar com "artistas" de cunho comercial e sazonal. Outro reflexo ai do que é a sociedade em relação cultural, grande parte alienada, seguindo tendencias da indústria comercial, sem a preocupação de buscar conhecimento, de interpretar o que é expresso por outros, sem questionar o que é apresentado nas letras que canta.
Ao meu ver, brasileiros são passivos demais, engolem calados, não questionam e não cobram, os maiores embates que vemos na mídia são de cunho ideológico comercial, ou de desvio de foco, onde a população apoia quem a mídia apoia, que normalmente é quem está ganhando. Bom, se for falar mais aspectos dá pra fazer umas 12 páginas aqui..hahahaha.. na minha opinião se resume nesses aspectos, que muitas vezes é o que tento tratar nas letras.
Vf0 - Você tem outro projeto que é voltado para o rap. Fale dele.
Vixi, mano, tem uma penca de projeto... hahahaha...
Nunca me restringi somente aos gêneros ligados a música pesada, de fato me criei neles, durante todo tempo que vivi em Leme. Porém sempre mantive os ouvidos atentos à música brasileira, seja samba, baião, manguebeat e rap, cada uma expressa uma realidade em sua linguagem, isso é foda!
Desde então nunca me bitolei em um único gênero, me arrisco em ideias mais experimentais com ritmos brasileiros também, mas o rap, a rima, me fascina pra caralho. A forma de adaptar sua ideia a fim de que crie a rima aliado ao flow, a levada e cadência das palavras é fantástico.
Cheguei a gravar algumas tracks com grupos de dub de Araraquara-SP e São Carlos, nessa ideia da rima do rap mesmo. Fiz alguns trabalhos com amigos, mas nada muito sério. Curto muito também participar de batalhas de freestyles, as chamas batalhas de mc's, onde a ideia é formada ali no improviso, na hora.
Bom, tenho diversas tracks gravadas por mim e por amigos voltadas ao gênero mesmo, mas ainda falta um pouco de disposição e inspiração pra organizá-las e soltar algo pra galera.
Vf0 - Que bandas você anda curtindo ultimamente?
Putz, pergunta foda.. hahaha... como falei na resposta anterior, curto muita coisa variada desde som pesado até samba, então vou listar algumas coisas que venho ouvindo conforme os gêneros.
Metal/Punk/HC
Punch: banda fudida americana com uma mina com vocal visceral!
Dr. Living Dead: uma das melhores bandas de Crossover da atualidade.
DFC: qualquer disco, a qualquer momento.
Surra: banda de uns brothers de Santos, ep. fudido!
Dead Kennedys: em virtude do show deles no Brasil tenho ouvido muito o disco BedTime For Democracy
Teen Idles: banda que veio a se tornar Minor Threat.
Anti-Corpos: banda feminista de SP, foda! HC na cara!
Rap:
Nas e Damian Marley: O disco Distance Relatives, álbum muito bom que une o melhor do ragga com rap.
Rapadura: raper nordestino, flow sinistro!
Rael da Rima: mano de SP mistura rima e melodia muito bem.
Black Alien: a qualquer dia e momento, genial.
Coruja BC1: Mano de Bauru-SP, vai dar muito o que falar.
Variado:
Lucas Santtana: disco O Deus que devasta mais também cura. Melhor disco brasileiro do ano passado na minha opinião.
Los Sebosos Postizos: Projeto do Nação Zumbi tocando Jorge Ben Jor.
Seu Jorge e Almaz: projeto de Seu Jorge e alguns caras da Nação Zumbi.
Roy Ayers: um dos mestres do funk americano
Vf0 - Larga aí sua mensagem final e grande abraço!
Cara, antes de tudo agradecer a oportunidade e o apoio, são de veículos e pessoas como você que o underground e a música independente se desenvolve e acontece.
E como mensagem fica essa ideia que desenvolvemos nas ultimas perguntas,
acho que temos que nos livrar desses preconceitos sonoros em relação a outros gêneros, tudo agrega, de uma forma ou de outro apresenta novos pontos de vista, novas experiencias, não é em vão não.
É bom tirar a cara de mal de metaleiro e fazer valer as atitudes de respeito e coletividade. Independente de estilo tá todo mundo no mesmo caminho, a única coisa que difere é a linguagem.
E logo mais se tudo der certo, Ep. do Makumbah saindo, uma produça mais elaborada e mais protestos.
Valeu Chuck! Tamo junto man!
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Valeu Murilo e a banda Makumbah! Boa sorte e contem conosco!