Este relançamento do album de estréia de King Crimson, "In the Court of the Crimson King" (1969), deixa todas as prensagens anteriores obsoletas. No final dos anos 90, Robert Fripp remasterizou o catálogo inteiro do Crimson para incluir em uma edição de aniversário de 30 anos. Não havia algo mais merecedor (ou necessário) de um belo upgrade do que este marco da história do rock. Inicialmente, King Crimson consistia de Robert Fripp (guitar), Ian McDonald (reeds/woodwind/vibes/keyboards/Mellotron/vocals), Greg Lake (bass/vocals), Michael Giles (drums/percussion/vocals), and Peter Sinfield (words/illuminations). Meio que profeticamente, King Crimson projetou uma banda obscura e incisiva de rock pós psicodélico. Assim como, eles foram inerentemente inteligentes. Uma espécie de Pink Floyd pensante.
Fripp demonstrou sua aptidão inata para contrastes e o valor do silêncio dentro de uma performance, mesmo nos primórdios como em "21st Century Schizoid Man". Uma música que não fica longe de ser o antecedente aural do que se tornou todo o som pesado alternativo/grunge. Justaposta com aquela intensidade elétrica vem a balada etérea noir "I Talk to the Wind". As delicadas melodias vocais e as flautas melancólicas de McDonald contrapostas ainda permanecem inalcançadas em um âmbito emotivo. As letras opacas e surreais são quase que um insight para o maestral jogo de palavras de Peter Sinfield, que agraciou os próximos três lançamentos deles. O lado A original termina com a poderosa imaginação sônica de "Epitaph". Os choros assombrados do melotron e as guitarras e violões de Fripp dão à introdução um tom quase sacro, adicionado gradualmente ao sentimento sinistro geral. O trabalho percussivo de Giles palpita pela música em ritmo de indução de transe. "Moonchild" é uma estranha e bizonha canção de amor, beirando o desconfortável. A melodia é ágil e atemporal, enquanto a instrumentação passeia como o vento através de galhos de árvores. No decorrer da música há uma improvisação que dissolve-se em uma sessão de free jazz não estruturada, com linhas de guitarra rolando através em paralelo. A faixa título, "In the Court of the Crimson King", completa o disco com mais uma linda e bombástica canção. Aqui novamente, a apreensão presente nas letras de Sinfield é instrumentalmente representada pela verbosidade contrastante no refrão e a natureza delicada dos versos nos solos finais.
É claro, esses comentários positivos só podem ser feitos contando com a versão digital. Agradeçam a Fripp e companhia pelo trabalhoso esforço. O resultado é bem saudosista, nem precisava dizer.
Powerful and somber.