Este é um album que mesmo aqueles que não são fãs do Deep Purple podem escutar umas duas ou três vezes em uma sentada, mas então, é porque este não foi parecido com nada que a banda já lançou. Na verdade, "Deep Purple" foi altamente reverenciado por muitos anos pelos fãs de rock progressivo, e por boas razões. O grupo estava passando por uma transição, o cantor principal Rod Evans e o baixista Nick Simper estavam para ser despachados da formação em breve logo que o album estivesse finalizado (mesmo que não tenham sido avisados até três meses após), o organista Jon Lord e o guitarrista Ritchie Blackmore tendo percebido limitações no trabalho em termos de onde cada um queria chegar. E por entre as sempre grandes ambições de Lord a favor de fundir clássico com rock e o ataque sempre audacioso da guitarra de Blackmore, ambas as quais começaram a se fundir com a sessão para "Deep Purple" em 1969, o grupo conseguiu criar um LP que combinou o excitação crua, intensidade e ousadia dos primórdios do heavy metal com a complexidade, o escopo intelectual e a virtuosidade do rock progessivo em ambos os níveis. Em "The Painter", "Why Didn´t Rosemary" e especialmente "Bird Has Flown", eles lançam um fascinante balanço entre todos aqueles elementos, e o trabalho de Evans na última é uma das performances vocais fundamentais na história do rock progressivo. "April", uma suite de três partes com acompanhamento orquestral, é em geral párea para tais esforços similares do The Nice como "Five Bridges Suite", e ganha pontos extras por dar crédito à sua audiência por uma sessão evolucionista geniosa relativamente longa, e por incluir um sério interlúdio orquestral que faz mais que apenas incluir um som bonitinho, explorando o timbre de vários instrumentos e também as características do todo. E mais ainda, a banda lança mão de uma versão hard rock, bem honesta de "Lalena" de Donovan, com uma quebrada de orgão que mostra o débito de Lord com o jazz moderno e também com o treinamento clássico. Ao todo, em meio a todos esses elementos, o acompanhamento orquestral, o embalezamento clavicórdio e gravações de orgão e bateria ao contrário, "Deep Purple" mantém junto incrivelmente bem um corpo de música. Este é um dos albuns mais sustentadores do rock progressivo de todos os tempos, e uma visão bem sucedida de um caminho musical que o grupo poderia ter seguido mas não o fez. Ironicamente, o selo americano do grupo, Tetragrammaton Records, que estava rapidamente aproximando-se da bancarrota, lançou este album bem mais cedo que a EMI na Inglaterra, mas deu de cara com problemas por causa da pintura de Hieronymus Bosch na capa, "The Garden of Earthly Delights". Mesmo que a pintura já tenha sido exposta no Vaticano, o trabalho foi fortemente perseguido por conter imagens profanas e nunca fez estoque em nenhuma loja como deveria ser por medo dos compradores.
Este disco também foi relançado pela EMI em 2000, remasterizado e com vários extras, para quem interessar mais.
Very solid Purple.