Este é o primeiro registro solo do baterista Bill Bruford depois da morte do King Crimson. "Feels Good to Me" vai bem além dos usuais conceitos do prog da época, e entra completamente nas estruturas de composição e dinâmicas de improvisação do jazz. Aqui ele cerca-se de vários parceiros da cena de Canterbury; os guitarristas Allan Holdsworth (Soft Machine e Tony Williams´ Lifetime) e John Goodsall (Brand X), o baixista Jeff Berlin, o tecladista Dave Stewart e o excepcional tocador de flugelhorn da ECM Kenny Wheeler. Ele também recrutou o enigmático talento vocal da poetisa, cantora e compositora Annette Peacock.
A abertura, "Beelzebub", vem com um furioso trabalho de staccato. Holdsworth troca compassos com Bruford e Berlin executa linhas de baixo em loop enquanto Stewart pinta o quadro no orgão e no sintetizador. Amarra-se e pára de repente antes de cair em um belo solo de Holdsworth resumindo-se em um reagrupamento e retomada do tema. "Back to the Beginning" apresenta uma das quatro performances vocais de Peacock. É um som jazz; funkeado, sincopado, pesado e carregado liricamente em groove e métrica. É uma música sobre vícios, e dado o tratamento suntuoso de Peacock, é difícil dizer se são químicos, materiais ou sexuais. A banda tenta bastante trabalhar atrás da cantora mas não consegue deixar de ofuscá-la.
Na de duas partes "Seems Like a Lifetime Ago", a esquizofrenia musical toma conta. Após uma colorida inrodução pastoral, Peacock aterrisa belamente através da letra de Bruford sobre solidão e divagação acompanhada por um lindo solo de Wheeler. A "Part Two" começa com o estribilho dela e a banda decolando para partes desconhecidas. Ritmos funkeados complicados chamam a guitarra de Holdsworth direto para cima da bateria frenética de Bruford. Eles desafiam-se dinamicamente enquanto o resto da seção rítmica dança nervosamente ao redor deles. Holdsworth finalmente toma a frente e toca um solo nada mais que fascinante, dando espaço para uma retomada do tema e Bruford abrindo a estrutura harmônica trazendo-a para um fechamento transcendente dois minutos depois. As seis instrumentais do album são certeiras: englobam quebradas de improvisação aos limites dos padrões composicionais ao invés de vice-versa. A mais bela, "Either End of August", apresenta Stewart e Wheeler tocando solos não usuais porém melódicos que casam uns com os outros enquanto o resto da banda luta para deixar o drama fora da música. Eles não têm sucesso completo nisso e a faixa fica ainda melhor com isso.
O set fecha com "Adios a la Pasada", uma colaboração entre Peacock e Bruford. É o tema favorito de Peacock: sair de uma relação de amor perdido e ainda assim manter o coração aberto depois. A abertura é morna e estranha, vestida com teclados sussurrados e o baixo assombrando cada palavra da artista. Então Bruford majestosamente lidera a banda, fluindo para dentro do coração da letra dela, "What it is/Is this/Is what it is/Forgive yourselves/Release yourselves from the past." A música abre uma completamente nova dimensão sonora, como se a história, musical e emocional fossem reescritas. E foram. É difícil dizer se Bruford lançou mais algum registro solo tão poderoso quanto "Feels Good to Me".
A terrific debut by Bruford.